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Qual é a senha do wifi?

Por Mohammad Jamal.

Com sua licença! Por favor. Dirijo-me inicialmente àqueles que, ociosos, movidos pela curiosidade, dão-se ao trabalho de ler-me aqui e neste blog. Aqueles que já conhecem a estilística dos meus artigos sabem do onipresente sentido da dúvida com que, precavidamente, me resguardo dos conceitos impositivos e diagnósticos irrecorríveis comuns aos sábios “sociólogos” do nosso cotidiano existencial. Por isso, recorro ao célebre – que não é da TV – filósofo Sócrates que, humilde, declarou irrestritamente: “Só sei que nada sei, e o fato de saber isso, me coloca em vantagem sobre aqueles que acham que sabem alguma coisa.”. Continuo aprendendo e me surpreendendo com as coisas inimagináveis que me vem ao conhecimento, mas fugindo, como dizem os cristãos, “como o diabo da cruz” das adaptabilidades requeridas.

Qual é a senha do wifi? A atual realidade cultural é toda oriunda da comunicação virtual em tempo real, dominada por aquele utensílio mágico com poderes inimagináveis sobre a mente humana: o celular e seus apps, a que eu chamo de ‘programinhas’ come/comes. Essas eu reuni de um famoso sociólogo e conferencista Leandro Carnal. Bilhete deixado por nossa cozinheira: Aviso. “Seu Mamede, na quinta feira, eu venho sexta.”. “Na escola, numa dissertação sobre o dogma religioso ‘inferno’ um aluno produziu o seguinte julgamento crítico, esta preciosidade.”. “Ah… O inferno é aquele lugar terrível que não tem wifi.”. E isso aconteceu comigo ha uns anos durante uma consulta a uma cardiologista. Sempre com o celular à mão, toda vez que eu perguntava alguma coisa a médica me interrompia, ‘um momentinho, por favor, e atendia ao celular, falava… Falava. Após minha quarta tentativa, interrompida, optei por fazê-la por celular. Liguei na frente dela mesmo, que prontamente me pediu ‘data vênia’ para atender. Eu: “Sou eu mesmo doutora. Bem aqui à sua frente! Achei mais fácil colocar minha pergunta consultando-a por celular. É  a sua preferência, não!”. Sendo que em seguida me retirei sem concluir a consulta por celular. O elemento eletrônico virtualizava uma relação de serviço fadado ao erro e riscos para com a minha saúde cardiológica. Ou não.

“A catraca do buzu tá travada pra nóis!”. Numa encruzilhada de três vertentes, duas já foram fechadas ao cidadão brasileiro. Já não podemos optar; perdemos o sagrado direito de escolher, estamos índios para a cidadania. Alguém toca o berrante lá no Planalto Central e, toda a manada do proletariado muge afirmativamente. Somos os bois de tração que aram, gradeiam e carregam o país às costas, para o gáudio exclusivo das “nossas lideranças” ou políticos que “pecuarisam” (desculpem o neologismo) o proletariado nos currais eleitorais com o surrado clientelismo oportunista barato.

Reflexologia das massas na betoneira do filosofismo. Diante das diversas vertentes que apontam no sentido de que toda ação ou reação política sociológica advém da psique e reflexologia das massas; bate aquela humildade socrática, aí me pego muitas vezes mergulhado por dias em textos, teorias e estudos de pensadores famosos, assertivos, portanto, difíceis senão impossíveis de se contraditar.  Às vezes vou até textos mitológicos e às tragédias gregas como Édipo Rei (Sófocles); Electra (Eurípedes), Ésquilo, que foram os dramaturgos de maior importância àquela época, em busca das razões da razão coletiva. Aristóteles concluiu que a vida é o teatro do realismo existencial, a cada cena uma surpresa nos impacta.  Ele concluiu sabiamente, que o espetáculo trágico para se realizar como obra de arte deveria sempre provocar a “Katarsis”, a catarse, isto é, a purgação das emoções dos espectadores. Forçar um reencontro entre a realidade íntima mais oculta com a existencialidade cotidiana e, forçar a harmonização entre as suas gritantes diferenças quase irreconciliáveis. Recorri também aos poemas de Homero e até aos textos bíblicos em busca de respostas para essa tragédia que se abate persistente sobre o proletariado.

“Camelo não sobe escadas, mas trepa” (do colunista social libanês Ibraim Sued). Estudei o conjunto das principais obras de Durkheim. Eles forneceram elementos decisivos para a constituição da Sociologia como ciência e para compreensão da vida social na tradição estabelecida de pesquisas concretas. Nesse contexto, “Comte inventou o termo sociologia, mas, antes é Durkheim quem deve ser considerado o pai da sociologia positivista, enquanto disciplina científica” (Löwy, 1994, p. 26). Ele próprio reconhece sua filiação aos princípios metodológicos preconizados por Comte, na tentativa de descobrir as leis naturais que regem as sociedades e de se utilizar dos mesmos métodos das ciências exatas. Suas obras constituem uma herança para os cientistas sociais aprofundarem, criticarem e repensarem a explicação dos fenômenos sociais.

Ronaldinho, Kracolandia, Brasília… Nos fenômenos sociais, a massa se destaca por ser extraordinariamente influenciável e crédula logo, sendo desprovida de crítica, é susceptível aos apelos e maneirismos do marketing político. “Para ela o improvável não existe. A massa pensa por imagens que se evocam associativamente umas às outras, tal como o que ocorre ao indivíduo nos estados do livre fantasiar, e nenhuma instância razoável afere a sua correspondência com a realidade.” (Freud). Os anelos e sentimentos da massa são sempre muito simples e muito exagerados. A massa desconhece tanto a dúvida quanto a incerteza.  Ela vai logo aos extremos: a suspeita manifestada logo se transmuta para o ódio selvagem. Por isso, quem age sobre a massa não necessita nenhuma ponderação lógica em seus argumentos; tem somente que pintar as imagens com cores fortes e repetir sempre as mesmas coisas. Isso se constata em fatos conclusos quando revemos o primeiro mandato do nosso prefeito e sua subsequente persistência por reeleição, coroada pelos feitos do atual mandato.

Com o Braz por tesoureiro? O país chafurda na corrupção institucionalizada; as instituições e o capital estatal são assaltados descontroladamente à luz do dia. O país sofre bilhões de dólares de prejuízos e desmoraliza-se diante dos brasileiros tanto quanto internacionalmente; desacreditado como país muito duvidoso, politicamente ambíguo e inseguro para investimentos de capitais estrangeiros a médio e longo prazo. E as questões sociais se agravam e se amontoam em estado crítico, insolúveis. Falta dinheiro para investimentos em saúde; educação; saneamento básico; segurança pública; infraestrutura para geração de energia; abastecimento d’água; políticas públicas; justiça; sistema carcerário; assistência social; reestruturação e recuperação de toda a rede de hospitais públicos por isso, os desperdícios com ‘hospitais de campanha’; indisponibilidade de medicação de uso contínuo; geração de emprego; melhoria da renda familiar; reposição das perdas dos aposentados; inflação medianamente controlada, mas em contínuas ascensões, combustíveis e alimentos básicos em desenfreada alta de preços; nenhuma transparência na gestão do bem público; etc. etc. tudo isso refletindo como um enorme fardo a pesar sobre as costas dos brasileiros em cujos cérebros e consciências cidadãs, políticos mitomaníacos em discursos programáticos e suas campanhas milionárias plantam miríades de sonhos e um jardim do Éden de esperanças em um futuro melhor para nossas famílias, enquanto eles, reeleitos consomem tigelas fartas com gelatina de pétalas de rosas. Tá ruim aqui embaixo

Mohammad Jamal é escritor.

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