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UM SONHO, DOIS SANTOS, DUAS MULHERES!

Bernadete Souza e Jacquelina Meira.

Por José Henrique Abobreira.

Madrugada de domingo, 27 de setembro de 2020, quase amanhecendo o dia, acordo agitado, emocionado e com um nó na garganta, véspera das lágrimas escorridas. Despertei do sonho, ainda falando fiapos da exortação emocionada que fizera ao longo da sensação onírica. Um episódio com que, na vida real nos deparamos, indignados, no dia a dia das grandes e médias cidades, opressão a toda hora e a todo custo contra as populações periféricas menos favorecidas.

Estava saltando de um coletivo, quando notei no terminal  urbano uma aglomeração de seguranças cercando dois adolescentes negros, com cara de pouco amigos, um deles já esboçando gesto de agressão contra os dois meninos. Pedi que não fizessem aquilo, era coisa errada, atentado contra a cidadania dos indivíduos. E me vi envolvido num misto de exortação pública que, num crescendo, foi ganhando a forma de um comício político, condenando as violências que são cometidas em nome de uma suposta ordem, mas são acontecimentos que atestam a dimensão de uma sociedade tolerante com essas práticas violentas.

A corrução de um Estado que permite um governo eleito pelo voto de seus concidadãos perpetrar crimes e violência contra negros favelados dos morros e periferias das cidades, corrupção praticada contra toda uma sociedade nacional ao fazer vista grossas às queimadas, o fogo se alastrando na Amazônia e no Pantanal, dois biomas importantes para o equilíbrio climático do Brasil e do mundo. Diante da tragédia, a inércia programada de todos os órgãos de controle para não inibir toda sorte de aventureirismo em voga no país.

Em transe, levantei, escutando ao longe o espocar de fogos de artifício. Lembrei: era em homenagem à comemoração do dia dos meninos santos, Cosme e Damião. Veio-me à mente a lembrança dos meninos e meninas desprotegidos, com fome, toda essa precariedade aumentando, já passando dos 10 milhões de pessoas que não têm um prato pra comer. Quanta miséria, quanta maldade praticada pelos poderosos num país tão rico e que já tinha superado o flagelo da fome.

Das ações de bondade, alegria e cura atribuídas aos santos meninos brota a religiosidade do nosso sincretismo baiano. Atribuindo aos santos, às suas ações de cura e alegria, como que transmutadas em ajuda aos mais necessitados e a felicidade das crianças, um retorno à alegria de infância,  a certeza da cura social mesmo na tristeza e no flagelo dessa pandemia que assola o Brasil, com mais de 140 mil mortos, mortes que em sua maioria não foram evitadas pela inação do governo federal.

Dirijo-me ao portão, para espiar a rua e o tempo, ainda encabulado com as emoções ainda aflorando do meu universo mental. Uma pomba, ciscando no passeio de casa, me encara e com os olhos e um leve meneio de pescoço me dá bom dia.

Pronto! Eis o sinal de esperança, de fé na democracia, de energia da luta contra as iniquidades dessa tragédia chamada Bolsonaro. Despertar do pesadelo bolsonarista, do ódio e da mentirada jogada diariamente na cara dos brasileiros, do passar da condenação das iniquidades sofridas pelo nosso povo nessa desigualdade indigna, que os malditos têm imposto, fria e cinicamente ao povo brasileiro, às ações de combate e enfrentamento às injustiças. Não por acaso se iniciava naquela data o processo eleitoral nos municípios. Hora de se combater o bom combate. E nesse processo eleitoral em Ilhéus, o PSOL, no seu conjunto diretivo e militante, apresenta os nomes de duas guerreiras: Bernadete e Jacquelina, candidatas a prefeita e a co-prefeita; Berna e Jack para os afeitos às lutas populares que presenciam suas ações sempre em defesa das populações, nos assentamentos, nas universidades e meio estudantil, nos quilombos dos terreiros, no seio da juventude periférica e da cultura hip hop, nas inúmeras aldeias indígenas Tupinambá.

Duas mulheres que ao longo da campanha estarão conversando com o povo pobre, os oprimidos, os organizados comunitariamente. Mulheres com um olhar cuidadoso, afetuoso e com mãos que sabem tratar das mazelas que afligem o nosso povo.

O Plano de Governo Participativo, o PGP, está sendo montado, conversando nos quatros cantos da cidade e  no campo diretamente com a população.

As linhas mestras traçadas apontam uma maior acolhida às manifestações populares. Controle do dinheiro público sagrado, na elaboração do Orçamento Participativo, a sociedade se apropriando dos seus recursos e dizendo onde quer ver empregado o tributo que paga traduzido em obras na sua comunidade e elaboração de políticas públicas que contemplem o social, principalmente nesse pós-pandemia, quando os recursos públicos deverão ser empregados rigorosamente no combate à precarização das famílias, dadas as incertezas que nos rondam.

Fazer da cidade um caldeirão efervescente da cultura, estimulando o segmento a superar a extrema dificuldade por que passa o setor cultural.

Criar na cidade estímulos governamentais fortes para investir no segmento da Economia Criativa – moda, artesanato, design, produção de softwares, arquitetura, literatura, cinema, teatro, festivais culturais. Trabalhar em Ilhéus o conceito de CIDADE CRIATIVA, fomentando o empreendedorismo e a geração de trabalho e renda. Estimular a instalação de Centros Culturais nos bairros e distritos, locais de aprendizagem e treinamento para a comunidade com tecnologias adequadas. A resignificação da vida do jovem no campo, reassentando as pessoas no meio rural para morar e produzir.

São muitos temas e muitos os assuntos. Prosseguiremos aqui nesta tribuna, nas ruas, nos guetos periféricos, nos campos, com a nossa caravana da esperança guiada por essas duas empoderadas mulheres, Berna e Jack, combatentes na defesa dos interesses populares.

José Henrique Abobreira é auditor aposentado da Receita Estadual. Foi vice-prefeito e vereador de Ilhéus. 

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