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Uma estimativa da subnotificação da COVID-19 em Ilhéus

O portal COVID-19 BRASIL reúne estudos de todo o país. Uma das pesquisas estima a subnotificação do número de infectados pelo novo coronavírus com base na sua taxa de mortalidade. Nesta publicação, adaptamos o método para estimar o total de casos subnotificados em Ilhéus.

Para definir a taxa de mortalidade real do vírus, os pesquisadores brasileiros se basearam no cenário da pandemia na Coreia do Sul, um dos poucos países que conseguiram “realizar testes em massa”, explicam os cientistas. Isso sugere que o país asiático tem a taxa mais próxima da proporção real de mortes por infectados.

Os pesquisadores ajustaram a taxa sul-coreana (2%) com base no perfil demográfico brasileiro, considerando a pirâmide etária do Brasil. Isso porque nossa população é proporcionalmente mais nova e, em termos gerais, menos vulnerável ao vírus. É importante observar que esse ajuste não considera outras variáveis que podem tornar a pandemia mais letal por aqui, como as condições de habitação e de acesso aos serviços de saúde. Assim, o estudo aponta que a taxa de letalidade esperada do vírus no país é de 1,11%.

Por que a taxa de mortalidade ajuda a estimar o número total de casos? A resposta é uma das premissas da pesquisa. Conforme a explicação dos cientistas, “o registro de óbitos é usado como uma medida substituta para determinar os casos de COVID-19. Estimamos os números acumulados de casos (população infectada) a partir do registro de óbitos acumulado, a partir dos boletins epidemiológicos emitidos“.

Para estimar a subnotificação da COVID-19 em Ilhéus, usamos os dados do boletim epidemiológico publicado ontem  pela prefeitura.

Treze moradores do município morreram com o vírus. Com base no método do COVID-19 Brasil, esse número representa 1,11% do total estimado de infectados (1171). Portanto, com 277 exames positivos até essa sexta-feira (8), Ilhéus teria outros 894 casos fora dos registros oficiais.

A estimativa da subnotificação indica que testamos pouco, e isso nos mantém distantes da taxa de contágio, que é o número de pessoas para as quais cada pessoa infectada transmite o vírus. Sem essa variável, não é possível afirmar em que ponto da famosa “curva” de contaminação estamos. Sabemos, no entanto, que ainda é ascendente, porque o número de casos registrados cresce a cada dia. Desse modo, podemos deduzir que a taxa de contágio de Ilhéus é acima de 1, o mínimo necessário para que a trajetória de contaminação se mantenha ascendente.

Ao constatar o óbvio, que fazemos poucos testes diante da velocidade de espalhamento do vírus, devemos assumir que estamos muito longe de ter uma visão clara do cenário. E, sem uma aproximação verossímil da taxa de contágio, não podemos estimar de quantos leitos de tratamento intensivo precisaremos daqui a quinze dias, por exemplo, já que esse é o tempo médio de desenvolvimento da COVID-19 para os casos que exigem internação e cuidados mais específicos, como o uso de aparelhos de ventilação e de hemodiálise.

Em outras palavras, não temos dados que permitam prever qual será a taxa de ocupação das UTIs em duas semanas. Nessas condições, vale repetir uma metáfora já muito usada para ilustrar o drama da pandemia. Estamos num túnel escuro. Devemos pisar com cuidado, pois ainda nem vislumbramos a luz no fim dele.

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