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Chocolate falso? Produtos com ‘sabor chocolate’ como alternativa à alta dos preços do cacau.

Desafios e Transformações no Mercado de Chocolate Brasileiro: Uma Necessidade de Inovação

O mercado de chocolate no Brasil enfrenta um dos momentos mais desafiadores de sua história recente. Com um aumento meteorítico de quase 200% no preço do cacau em 2024, as indústrias estão sendo forçadas a repensar suas estratégias, buscar alternativas inovadoras e, ao mesmo tempo, garantir que seus produtos continuem acessíveis aos consumidores. O caminho adotado por muitos fabricantes foi a reformulação dos produtos tradicionais, transformando-os em opções rotuladas como “sabor chocolate”, que contêm significativamente menos cacau em suas composições.

Ao olhar para essa transição, é essencial compreender o que realmente significa essa nova categoria de produtos. A busca pela redução de custos e pela adaptação às novas condições de mercado é um reflexo da realidade econômica enfrentada por indústrias em várias partes do mundo. No entanto, essa mudança não ocorre sem impacto na qualidade e na experiência sensorial que os consumidores esperam. Cada vez mais, ouvimos relatos de brasileiros, especialmente aqueles com mais de 30 anos, que se sentem decepcionados com a qualidade do chocolate disponível atualmente, que, segundo eles, não se compara ao chocolate das décadas passadas. Essa percepção, segundo especialistas, é válida e aponta para uma verdade desconfortável que a indústria precisa enfrentar: a qualidade tem sido comprometida.

Por trás dessa transformação, está uma mudança significativa nos ingredientes utilizados nas formulações. A gordura de cacau, considerada um dos componentes essenciais para a autenticidade do chocolate, está sendo substituída por outras fontes vegetais mais baratas, junto do aumento do uso de açúcar. Em alguns casos, a porcentagem de cacau nos produtos finais chega a ser reduzida para apenas 15%, com a utilização de pó de cacau no lugar de nibs macerados. Essa redução drástica não apenas compromete o sabor, mas também a essência do que muitos consideram ser chocolate.

Adicionalmente, uma mudança de legislação em 2005 permitiu que a quantidade mínima de cacau exigida em chocolates ao leite fosse reduzida de 35% para 25%. Essa mudança, juntamente com a falta de limites para o uso de gorduras vegetais, abriu caminho para que a indústria adotasse ingredientes mais econômicos e menos autênticos.

É agora mais do que necessário que a rotulagem dos produtos seja clara e transparente. Muitas vezes, os consumidores se sentem enganados e, em resposta a essa desconfiança, podem recorrer a entidades de defesa do consumidor, como o Procon. Leis estabelecidas para proteger o consumidor são rigorosas e podem condenar práticas enganosas, incentivando uma maior responsabilidade por parte dos fabricantes.

Outro elemento a ser considerado nesse cenário é o papel da tecnologia no desenvolvimento dos produtos. A colaboração entre empresas, como a IFF e a MasterSense, trouxe inovações com o Cocoa Extender, um ingrediente que permite uma redução de até 35% no uso de cacau mantendo características sensoriais similares ao chocolate tradicional. Embora esses novos produtos tragam semelhanças em sabor, estrutura e retrogosto, é vital ressaltar que não podem ser comercializados como chocolate, o que levanta questões sobre as definições de “o que é chocolate” em um mercado que está mudando rapidamente.

Notáveis marcas, como Bauducco e Nestlé, têm alterado suas receitas para refletir esse novo cenário. A Bauducco adaptou seu choco biscuit para um novo formato rotulado como “sabor chocolate”. A Nestlé, por sua vez, lançou suas novas barras Alô Doçura, Surreal e Onix com formulações que atendem às novas exigências de produção. Ambas as empresas enfatizam a importância de entender a reação do consumidor antes de implementar essas mudanças, algo que é crucial em um ambiente de consumo cada vez mais atento e crítico.

Somado a isso, a Nestlé informa estar fazendo esforços para evitar repassar o aumento de custo dos insumos para o consumidor final, uma medida que pode ser vista como uma tentativa de preservar sua base de clientes em tempos desafiadores.

Por todas essas razões, a indústria do chocolate no Brasil está em um ponto de inflexão. A necessidade de inovação e adaptação é inegável, mas será este o caminho correto para preservar a riqueza e a cultura chocolateira que o Brasil representa? Como os consumidores irão reagir a essas mudanças a longo prazo? As respostas a estas questões definiram o futuro do chocolate brasileiro nos próximos anos.

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