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Jesus te ama

Mohammad Jamal.

Por Mohammad Jamal.

O Fato.

Jesus te Ama! Aconteceu no sábado quando eu saía de uma cafeteria; uma senhorinha idosa e miudinha, muito simpática, possivelmente uma evangelizadora, pediu licença para me dar um folhetinho pequeno – prefiro não chamar de “santinho” pra não deprecia-lo à semelhança daqueles papelotes largamente usados por candidatos a cargos públicos – com uma gravura, uma mensagem evangélica e dois versículos da bíblia. Em seguida disse-me carinhosamente _ “Jesus te Ama!”. Mas claro que me ama. Ora, mesmo não sendo eu um cristão, sei com certeza que يسوع (yasue), Jesus, me ama! “Amarás a teu próximo como a ti mesmo.” – É que na língua siriana e no antigo aramaico a pronúncia deste nome passa para Eeshoo, Yishuh, entretanto, a antiga pronúncia era Yeshua. Li o folhetinho diante dela e agradeci respeitosamente colocando a minha mão direita sobre meu coração.

 يسوع (yasue), Jesus amava à todo o próximo e aos distantes, porque era da índole e alma de يسوع  amar ao próximo e ao distante indistintamente, se rico, pobre, letrado ou iletrado, não pela quantidade na sua cáfila, pelo número de jumentos na sua tropa ou pelos poços d’água sob seu domínio e propriedade. Jesus amava e pregava o bem, mesmo para Islamitas como eu e, com certeza, ainda me ama.

O Prólogo.

Eu ti amo! Aliás, amo a todos vocês, ou quase todos, porque tem uns que votarão no meu adversário. Eu ti amo! Segura logo esses quatro santinhos para não esquecer meu número e partido. Os outros santinhos são para familiares e amigos. Comigo lá, você estará no céu, eu prometo.

A filosofia intrínseca à política.

Sob a antevisão de Platão, a política é uma arte para qual nem todos os homens estão aptos. Segundo Platão, somente aqueles mais capacitados, nesse caso os filósofos, seriam capazes de exercer a administração da pólis de forma a garantir o bem estar de todos, por possuírem o conhecimento racional e verdadeiro. O objeto da política em Platão é corrigir as injustiças ocasionadas por homens não aptos à atividade política e que por isso acabaram por cometer diversas injustiças. Mas filósofos na política? Imagina. Fala sério vai. Faz-me relembrar aquele samba do Zeca Pagodinho: “Você sabe o que é caviar? Nunca vi, nem comi. Eu só ouço falar. Sou mais ovo frito; farofa e torresmo. Pois na minha casa é o que mais se consome. Por isso se alguém vier me perguntar: “O que é caviar, só conheço de nome.”. Sacou? Influencers, eloquentes representantes de Deus aqui na terra, pregadores veementes ‘de peças’, promoteurs, abanos, os vote em mim, num marketing surrado, enxovalhado e meio cínico. Eu conheço muitos que anseiam e sonham com as volúpias do nirvana político lá em Brasília tomando de assento o Palácio da Alvorada e, na impossibilidade, contentam-se com uma diplomação por aqui mesmo no salão nobre do Paranaguá. Mas se do meio do povo lhes perguntarem: E nós o povo… Povo? Povo, o que é isso? “Nunca vi, nem comi. Eu só ouço falar.”. Você já recebeu seu santinho hoje? Eu estou andando com duas mochilas às costas só para carregar os santinhos manhã. Kg ou seria ‘quilos’ de santinhos?

Meu vereador.

Tenho cá meu candidato. Já ajudei a elegê-lo uma vez e reelege-lo, três vezes. Quatro vezes vereador. Amigo de fé desde 1975, quando ainda recém formando em medicina com especialização em ortopedia. Ele não dá dinheiro, não emprega ninguém na prefeitura e pouco ou quase nada consegue dos prefeitos para o povo, porque não gosta de negociatas. Mas dá. Dá assistência, atenção e cuidados médicos aos humildes e aflitos nas horas difíceis. Aquele homem enorme tem um coração maior que ele.  Outro que também acumula quatro mandatos é o Defensor. Também muito amigo e dedicado a ajudar; sério, corajoso, polêmico, também sempre posicionado ao lado dos humildes e desassistidos de assistência jurídica. Ele defende os pelados, sem receber nenhuma paga. Esses dois tem o que dar e, de fato ajudam o povo nas horas críticas e difíceis onde o Estado é falho ou está ausente.

É dando que se recebe.

Plante e colherás. Preste um serviço voluntário na sua comunidade, no bairro onde resides; na sua empresa, seja presente e colaborativo, envolva-se na defesa da infraestrutura urbana, do saneamento, da assistência social, segurança, benfeitorias nas escolas, ruas e praças, lidere movimentos e comissões à Câmara e Prefeitura por soluções para o bem comum do seu bairro. Se não fez ou faz um pouco de cada coisa pelo bem comum, não adianta prometer agora fazê-las se for eleito. Isso é permuta remunerada e não um voluntariado por liderança em defesa dos direitos constitucionais solapados dos comuns, nós, povo. Não tenho plano de saúde, valho-me dos hospitais da cidade que atendem ao Plano SUSto, porque para  ser atendido num hospital de primeiro mundo tipo Costa do Cacau, é preciso ser conduzido até lá á bordo de uma ambulância do SAMU. E velho, sabe como é, estão sempre na bronca, com Check-in pronto e com cartão de embarque para o além à mão. Sacou?

O Brasil necessita políticos que trabalhem por ele. Mas políticos que possuam renda própria, do trabalho, do seu comércio, sua empresa e que não olhem o cargo público ou os rendimentos que haverá de auferir financeiramente, se eleitos, como se um prêmio maior por sua eloquente sapiência para induzir o eleitor a sufraga-lo com a Mega Sena acumulada. Cidadania cívica e patriotismo estão em falta no Brasil. “Nunca vi; nem comi. Eu só ouço falar”.

Mohammad Jamal é escritor e colunista do Ilhéus Comércio.

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